Marcha Mundial das Mulheres – Rumo aos 10 Anos, por Marlei Fernandes (*)

A Marcha Mundial das Mulheres (MMM) completará 10 anos em 2010. O retorno do debate e da luta feminista trouxe para a organização das Mulheres no mundo novas perspectivas para a superação das desigualdades sociais geradas pela sociedade capitalista. Também reabriu com muita força e ações permanentes a luta pelo fim da violência contra as Mulheres, luta essa quase invisível em nossa sociedade e com punições raríssimas tanto aos agressores quanto àqueles que assassinam as mulheres e acabam impunes. A Lei Maria da Penha, que completou três anos, é um exemplo gigantesco da retomada da luta feminista e de muitos grupos de mulheres que buscam justiça e igualdade diante dos números alarmantes de agressão e das atrocidades praticadas contra as mulheres.

 

A luta pela igualdade de direitos é antiga em nossa sociedade. As desigualdades salariais e os preconceitos com as mulheres geradas e aprofundadas pelo capitalismo merecem constante reflexão, organização, debates. A luta é permanente e todo dia. A MMM propicia avançarmos em nossas organizações nos debates e nas lutas contra as desigualdades.  Ajuda a organizar mulheres que se encontram na miséria e se m perspectivas, a superar o medo da denúncia, a enfrentar os preconceitos impostos, a superar a dor da violência.

 

Breve histórico

 

A MMM já realizou duas ações internacionais; a próxima, em 2010, traz o lema “seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!”

 

A Marcha Mundial das Mulheres teve início com uma ação internacional, de 8 de março a 17 de outubro de 2000. Reuniu milhões de assinaturas em um abaixo assinado contra a pobreza e a violência sexista, e teve presença em 160 países, o que mostrou que a Marcha conseguiu ser um chamado de largo alcance.

 

Essa mobilização foi particularmente importante porque eram anos de hegemonia neoliberal, que significava um aumento da pobreza e da violência, ao mesmo tempo em que a esquerda tinha sofrido diversas derrotas.

 

Naquele contexto, a MMM, ao se colocar contra a pobreza e violência sexista, associada a uma crítica geral ao neoliberalismo, inaugurou um novo momento no movimento de mulheres. Sua proposta apresentou um caráter de mobilização e educação popular, e envolveu milhares de grupos de mulheres em uma ação local e nacional, com articulação internacional.

 

Após a ação de 2000, a avaliação foi que aquela iniciativa não poderia parar ali. Por isso, a Marcha Mundial das Mulheres decidiu seguir como movimento, e se envolveu desde o início no processo do Fórum Social Mundial e nas lutas gerais contra o modelo neoliberal, na campanha contra a ALCA e a OMC. A MMM se envolveu nestas lutas gerais a partir de sua perspectiva feminista, demonstrando como o neoliberalismo se utiliza do machismo e do patriarcalismo para se sustentar.

 

Sua consolidação como movimento feminista e anticapitalista tornou a MMM um movimento irreversível.

 

Em 2005, a MMM realizou a 2ª ação internacional, que foi uma marcha de revezamento. As mulheres de diversos países construíram a Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade, que, de 8 de março a 17 de outubro de 2005 viajou por todos os países que tinham a presença da MMM. Mobilizações foram realizadas em 55 países. Em cada país por onde a Carta passava, as mulheres costuravam um retalho que foi constituindo a colcha – mosaico da solidariedade. O final da ação foi na África, justamente para visibilizar a situação de pobreza extrema que atinge aquele continente.

 

Em 2005, o contato entre as Coordenações Nacionais da MMM, as passagens da Carta pelas fronteiras, inclusive entre países que vivenciam em situação de conflito, foi simbólica e demonstrou a força da solidariedade internacional entre as mulheres.

 

A Carta apresentava 5 valores: igualdade, justiça, liberdade, solidariedade e paz. Esses valores deram origem aos 4 campos de ação, que a MMM trabalha atualmente. A MMM é um movimento incontornável, com visibilidade e com atuação na conjuntura.

 

A terceira ação internacional da MMM será em 2010, com o lema “seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!”.

 

Características e princípios da MMM

           

A MMM tem entre suas características a idéia de expressar o seu protesto nas ruas, com a preocupação com as formas de comunicar nossas lutas, considerando que são vários os elementos que constroem e identificam o movimento.

 

A atuação da MMM pretende apresentar outros símbolos que representem as mulheres, se afastando do padrão de feminilidade imposto pelo capitalismo. Ao mesmo tempo, tem como eixo atuar frente às questões econômicas, que constituem a base material da opressão das mulheres pelo capitalismo.

 

A palavra de ordem “A nossa luta é todo dia! Somos mulheres e não mercadoria!” reúne esses dois elementos da nossa luta.

 

Outro diferencial da MMM é que, durante os anos 90, o movimento feminista no geral se organizou a partir de identidades muito particulares, e de forma fragmentada tendo como ações prioritárias o lobby e seminários de estudo. A MMM busca reconhecer as desigualdades e particularidades, mas construindo um movimento onde caibam todas: mulheres urbanas, rurais, jovens, adultas, negras, indígenas, etc.

 

Por isso, é fundamental manter um espaço permanente de auto-organização das mulheres para mudar a correlação de forças e as relações sociais. Ao mesmo tempo, é importante compreender que para transformações gerais e estruturais, é necessário consolidar alianças com movimentos mistos e construir coletivamente lutas amplas.

 

Ação 2010 – Definições do Seminário Nacional

           

No Brasil, no Seminário Nacional da MMM, ocorrido em maio de 2009, definimos que a ação internacional será uma MARCHA de 10 dias entre Campinas e São Paulo, com três mil mulheres. A atividade contará com a participação das integrantes da MMM-Paraná.

 

Considerando a conjuntura, nossos desafios e possibilidades, será uma marcha de denúncia, reivindicações e diálogo com a sociedade. Ao mesmo tempo, será um processo de formação das nossas militantes, e que exigirá, desde já, muita disciplina e organização.

 

Os estados saíram com várias tarefas: definição do número de marchantes, arrecadação de recursos, identificação de mulheres para cumprir tarefas durante a marcha. Vários estados já realizaram plenárias e outros tantos estão agendados para realizar.

 

O processo preparatório deve incluir a formação articulada com a mobilização, essa combinação garantirá que o movimento alcance uma de suas metas que é de enraizamento pelo país.

 

É fundamental que todas as participantes saibam por que estão marchando e tenham capacidade de se expressar a respeito das questões principais por onde a marcha passar. De 8 de março a 17 de outubro também deverão ser realizadas ações nos estados.

 

 

A APP-Sindicato faz parte da MMM

 

A APP é uma das entidades que organiza a MMM e que tem um número grande e significativo de mulheres militantes. Não é por acaso. Além de uma organização forte, de 62 anos, nossa categoria é formada por uma maioria expressiva de mulheres, cera de 85%. Assim é o Magistério! Não é por acaso que por ser uma profissão feminina os salários são baixos e as condições de trabalho sempre precarizadas. Nossa Campanha Salarial sempre tem início em 8 de março de cada ano para marcar nossa luta.

 

Conheça e participe da MMM. Entre em contato conosco!

 

Seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres!

 

(*) Marlei Fernandes de Carvalho  é presidenta da APP- Sindicato e integrante da MMM-Paraná

 

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