Juventude Sindical da APP debate Palestina em curso de formação

A questão palestina está concentrando as atenções dos educadores que iniciaram hoje o III Etapa Estadual do Curso de Formação Juventude Sindical da APP-Sindicato, na sede estadual em Curitiba. A etapa, que prossegue até amanhã, foi aberta pela manhã com uma palestra do jornalista e professor André Gattaz, que trouxe um relato da história da formação do Estado de Israel e suas graves consequências para o povo palestino.

Ao relembrar o histórico de conflitos, Gattaz, que também apresentou seu livro “A Guerra da Palestina: da Criação do Estado de Israel à Nova Intifada”, observou a série de violações a que foram submetidos os palestinos desde antes da criação do Estado de Israel e que foi agravada pelas guerras que se seguiram à partilha do território: a perda de terras em razão da expansão israelense, a condição de refugiados nos países vizinhos, a repressão na Intifada e as expectativas de criação de um Estado nacional.

Segundo Gattaz, a fundação do Estado de Israel se assentou sobre mitos, como o da herança sobre a terra ocupada há milênios pelos primitivos hebreus, sem relação com os atuais judeus dispersos pelo mundo, ou ainda de que seria a única democracia da região, de base econômica tecnológica, cujo modelo poderia ser “exportado” para outros países. Segundo Gattaz, a noção de democracia tem de ser questionada, já que há um regime de exclusão dos palestinos, assemelhado ao Apartheid sul-africano, ao passo a alta tecnologia israelense é decorrente de intensiva aplicação de recursos estrangeiros, sobretudo incentivos norte-americanos.

Ilegitimidade – À tarde, o Ualid Rabah, diretor da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), mostrou aos participantes do curso de formação a ilegitimidade do Estado de Israel no âmbito do direito internacional em razão da sua obstinada recusa em obedecer às resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) referentes à situação dos palestinos.

Rabah lembra que há uma crescente percepção na opinião pública internacional – acentuada a partir 1982, com a invasão ao Líbano, e que recrudesceu definitivamente no último ataque a Gaza, em 2008/2009 -, segundo a qual Israel é um Estado pária, por conta das sucessivas violações dos direitos humanos fundamentais. Segundo ele, Israel se mostra ao mundo como um país racista, que reprime com brutalidade os palestinos e faz uma deliberada política de separação, emblematicamente representado por meio de um muro que corta terras que legalmente não lhe pertencem.

De acordo com Rabah, a resolução 148 da ONU, que recomendava a partilha da Palestina, já se mostrava injusta, por atribuir aos judeus (30% da população da região na época) 53% do território, enquanto que os árabes palestinos (a maioria absoluta da população) ficaram confinados a 46% da área. No entanto, a guerra de independência, em 1948, a situação se agravou, com milhares de palestinos sendo expulsos de suas terras e passando a viver como refugiados em países vizinhos.

Para ser admitida como membro da ONU, Israel se comprometeu a acatar a resolução 194, que exigia o retorno dos refugiados com a devida indenização pelos danos sofridos, mas não obedeceu e a catástrofe para os palestinos estava consumada. “Desde então foram 60 resoluções da ONU relacionadas à questão palestina e nenhuma delas foi acatada ou implementada”, disse Rabah. Segundo o diretor da Fepal, a leniência das potências ao comportamento de Israel em invadir territórios palestinos contrasta com o empenho realizado em caso similar – da invasão do Kuwait pelo Iraque, em 1990, que ensejou a formação de uma coalizão internacional para expulsar a força de ocupação.

Exemplo – O médico palestino Abdel Latif Hasan Abdel Latif, pesquisador e militante da causa palestina, em sua exposição, afirmou que a luta dos palestinos é um exemplo a ser seguido por todos os povos oprimidos do mundo, na luta por democracia e justiça social. Segundo Abdel Latif, fica evidente ao mundo que a demanda dos palestinos é da mais elementar justiça e que Israel fica cada vez mais isolado em sua resistência a um processo de paz duradoura.

De acordo com ele, a vitória é uma questão de tempo. “Num conflito entre o direito da força e a força do direito, o fator tempo é importante, mas não determinante. Nenhum povo que luta sempre por sua liberdade acaba derrotado; com a Palestina será também assim”, disse, argumentando que a divisão da sociedade israelense e as mudanças da chamada Primavera Árabe tendem a acelerar este processo.

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