Hermes Silva Leão – Presidente da APP-Sindicato
Há exatos 51 anos o povo brasileiro viu o Brasil se afundar na conjuntura obscura do golpe civil/militar que implantou no país o regime ditatorial.
Nós, militantes dos movimentos sociais, estamos (des)comemorando este aniversário, aproveitando para promover debates, recuperar as memórias das lutas, torturas, assassinatos e prisões de homens e mulheres que ousaram defender a continuidade da democracia em nosso Brasil. O Brasil do início dos anos 1960 era uma nação que avançava em várias frentes importantes:
CULTURA – Na cultura, surgiu movimentos riquíssimos mundialmente valorizados como, por exemplo, o cinema novo, cujo maior expoente foi o diretor Glauber Rocha. O filme O PAGADOR DE PROMESSAS(1962), da obra de Dias Gomes, recebeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes, revelando os talentos dos jovens Glória Menezes e Leonardo Vilar, atores que protagonizaram a película.
MÚSICA – A música brasileira era igualmente aplaudida mundo afora. Movimentos como a bossa nova, samba, música sertaneja, música instrumental e a jovem guarda animavam plateias do Brasil e dos vários continentes.
EDUCAÇÃO – No processo educacional, o movimento sindical e estudantil avançava pensando em um país que incluísse a imensa maioria de analfabetos no mundo das letras. Deste período vem a contribuição importantíssima de Paulo Freire, que, em Pernambuco, trabalhava intensamente na tarefa de valorizar e estender a educação a toda gente. Exilado pela ditadura, produziu sua principal obra, A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO, que foi lançada no final dos anos 1960, no Chile.
SOCIOLOGIA, POLÍTICA, GEOGRAFIA – Pensadores mundialmente reconhecidos também contribuíam pensando o país, como Florestan Fernandes, Francisco de Oliveira, Sergio Buarque de Holanda, Milton Santos, entre outros. Foram perseguidos, alguns passaram tempo no exílio e no caso de Florestan Fernandes, foi aposentado compulsoriamente em 1969 pela ditadura.
Há exatos 51 anos o povo brasileiro viu o Brasil se afundar na conjuntura obscura do golpe civil/militar que implantou no país o regime ditatorial.
Há exatos 51 anos o povo brasileiro viu o Brasil se afundar na conjuntura obscura do golpe civil/militar que implantou no país o regime ditatorial.
Registro importante merece a trajetória do, também pernambucano, Josué de Castro. Foi médico, geógrafo, político. Estudou profundamente o fenômeno da fome em nosso “rico” país e no final dos anos 1940 publicou a obra A GEOGRAFIA DA FOME, onde desfaz mitos criados pela cultura colonialista, sustentando que a fome é uma criação política e escolha de modelo societário. Nesta obra, registraria uma de suas frases mais conhecidas: “Metade da humanidade não come. E a outra metade não dorme com medo dos que não comem”. Era embaixador do Brasil na Europa, quando o regime militar cassou seus direitos e o impediu de retornar. Exilado em Paris continuou produzindo e sofria imensamente com a falta de contato com sua gente. Chegou a dizer: “A gente não morre só de enfarte, morre-se também de saudade”.
ECONOMIA – Pensadores como Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares e outros mourejavam junto a outros colegas latino americano na CEPAL, Comissão Econômica para a America Latina e Caribe, com sede no Chile. Essa instituição pensava a superação das mazelas do colonialismo em nosso continente e projetavam igualmente o Brasil numa visão de unidade com os demais países vizinhos.
É possível afirmar que a ditadura civil/militar que se instalou no Brasil foi uma escolha deliberada da maioria da elite brasileira, uma elite com complexo de inferioridade que se vê muito mais projetada nas expressões da cultura europeia e estadunidense do que a nossa de raiz.
Os dirigentes da nação naquele período foram homens despreparados para o exercício de direção do país, generais que se amesquinhavam em disputas internas das forças armadas, que não pouparam vidas inocentes, incapazes de pensar o Brasil para a lógica do avanço social, cultural, político e econômico. Foram todos política, cultural e espiritualmente despreparados para o cargo máximo de direção do país.
Essa escolha pelo golpe na democracia brasileira custou décadas de avanços necessários num país marcado por profundas desigualdades sociais.
Assim é que nessa quadra histórica de 2015 nos vemos às voltas com uma parcela da população clamando pela volta da experiência da ditadura em nosso país. É preciso um esforço coletivo para recuperar a história e avivar a memória de todas e todos para que esta tragédia do autoritarismo de estado não se repita jamais. Nos próximos artigos pretendo desdobrar essa pauta, aqui neste espaço!
VIVA O POVO BRASILEIRO, VIVA OS QUE RESISTIRAM, SOBREVIVERAM, MAS VIVA PRINCIPALMENTE OS HOMENS E MULHERES QUE PAGARAM COM A VIDA A DEFESA DA DEMOCRACIA EM NOSSO BRASIL!