Gastos com bets podem impedir quase um milhão de jovens de entrar na faculdade, diz estudo

A “epidemia das bets” também está afetando o sonho da formação acadêmica dos(as) brasileiros(as). É o que indica um estudo que investigou como as apostas on-line estão interferindo no acesso à graduação. De acordo com a pesquisa “O Impacto das Bets 2”, 34% dos(as) entrevistados(as) deixaram de estudar no primeiro semestre de 2025 por terem comprometido seus rendimentos com apostas.

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Além do vício e do endividamento, a ilusão da conquista fácil de dinheiro ameaça as possibilidades de desenvolvimento do país pela educação. O estudo estima que, para o primeiro semestre de 2026, aproximadamente um milhão de matrículas da educação superior particular estão sob risco de não serem efetivadas por conta do comprometimento financeiro com apostas on-line.

A pesquisa revela que as bets fazem parte do cotidiano de 40% dos(as) entrevistados(as), que jogam com uma frequência de uma a três vezes por semana. O levantamento também perguntou “Qual o VALOR EM REAIS (R$) você acredita já ter investido em apostas on-line?”. O valor médio informado pelos(as) participantes da região Sul ficou em R$ 693, sendo o segundo maior valor, atrás apenas da região Sudeste, com um gasto médio de R$ 775.

Realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes) em parceria com o instituto Educa Insights, a pesquisa ouviu 11.762 pessoas, entre os dias 20 e 24 de março, para obter 2.317 respostas completas. Os(as) jovens entrevistados(as), com faixa etária entre 18 e 35 anos, são das cinco regiões do país e de todas as classes sociais. Os dados demonstram que os(as) apostadores(as) se concentram nas classes B (37%) e C (37%), sendo 85% homens trabalhadores com salário proveniente de emprego formal como principal fonte de renda.

“Quando vê, vai virando um vício”

A pesquisa revela o agravamento da transferência de dinheiro da classe trabalhadora para os grandes barões das apostas. Foi assim que Emília Oliveira, trabalhadora autônoma da Região Metropolitana de Curitiba, se viu afundada em dívidas. Tentando aumentar os rendimentos mensais com a promessa de dinheiro fácil, a trabalhadora perdeu valores importantes para a manutenção diária de sua vida. Emília é um nome fictício que estamos utilizando a pedido da entrevistada, para preservar a sua identidade.

“Eu não conhecia essas ‘bets’. Quem me mostrou foi minha mãe. Ela tinha ‘ganho’ 100 reais, falando para eu jogar que a plataforma era boa. Eu fiz o cadastro e comecei a jogar. Entrei em grupos para pegar links de plataformas boas e, no começo, apostava pouquinho, cinco ou dez reais. Daí eu comecei a aumentar os valores, e a maior consequência para mim foi quando eu não percebi que já estava no vício, pois jogava o dia todo e todos os dias”, explica Emília.

Foto: Pesquisa Impactos das Bets 2 / reprodução

A pior consequência para a autônoma foi quando ela pegou o dinheiro de uma conta de casa para apostar e perdeu o valor, o que gerou um problema financeiro e dificultou o pagamento de contas essenciais do seu dia a dia.

“Por consequência, tive problemas financeiros. Meu marido ficou muito bravo, chateado por gastar um dinheiro que já era da família para pagar as contas e tudo mais. Fora isso, tive o problema com a dependência. A gente não percebe e, quando vê, vai virando um vício. Perdi o valor, precisei trabalhar mais, meu marido trabalhar mais, deixando a gente mais exausto e piorando meu psicológico”, completa Emília, que hoje faz terapia e não aposta mais em cassinos on-line.

A trabalhadora reforça que as bets não são uma alternativa viável de dinheiro fácil e aconselha que a população se afaste dos jogos. 

“Não existe ganho fácil, não existe. Você pode ganhar em algum momento, mas você perde mais do que ganha. Isso que a aposta faz você acreditar que está ganhando muito, mas não é verdade. E não se perde só na questão financeira, você pode perder pessoas que você ama, sua autoestima, pode perder a confiança em si mesma, das pessoas em você. É um caminho doloroso”, finaliza Emília.

O que aconteceu com Emília não é um caso isolado e, somado com os dados divulgados na pesquisa “O Impacto das Bets 2”, reforça a necessidade de que as casas de apostas online sejam regulamentadas, além de políticas públicas de conscientização sobre o tema. Isso inclui campanhas educativas voltadas a orientar sobre os riscos do uso excessivo de plataformas de apostas em diversos setores sociais, inclusive para quem acessa instituições particulares de ensino.

 

:: Quer conhecer a íntegra da pesquisa?

>> Clique aqui: Impacto das bets na educação superior – onda 2

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