Estão abertas até o dia 9 de agosto as matrículas do segundo semestre para a conclusão dos estudos pela Educação de Jovens e Adultos (EJA) na rede estadual do Paraná. Política pública importante para combater o analfabetismo e oportunizar melhores condições de vida e dignidade para a população que não concluiu o ensino na idade regular, essa modalidade tem sido destruída pela gestão do governador Ratinho Jr. (PSD).
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Podem se matricular estudantes do Ensino Fundamental, com idade mínima de 15 anos completos, e do Ensino Médio, com no mínimo 18 anos completos. O procedimento pode ser realizado em uma das unidades que ofertam a EJA ou pela internet, no site da Secretaria da Educação (Seed).
“Sem estudo não tem dignidade”
Moradora do bairro Xaxim, em Curitiba, Lucinéia Santos Maciel, 38, acabou de concluir a etapa do Ensino Fundamental através da EJA. Ela relata que, por questões sociais, não teve a oportunidade de estudar na idade certa. A necessidade de trabalhar para ajudar nas despesas de casa foi a principal razão que a distanciou da sala de aula.
“Sem estudo eu vi que eu não conseguiria nada além de um serviço que não oferece boas condições de trabalho e renda. Estudar é ter dignidade, porque se a gente não tem estudo, não tem dignidade”, afirma. Atualmente ela trabalha como secretária em um consultório odontológico, mas seus planos são terminar o Ensino Médio para depois fazer o curso superior de Enfermagem.
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Ameaças constantes
De acordo com divulgação do governo, atualmente a rede estadual possui 32.537 estudantes matriculados na EJA. Mas em 2019, primeiro mandato de Ratinho Jr., esse número era de 125.881 alunos(as). Ou seja, com as mudanças introduzidas pelo empresário que foi secretário da Educação do Paraná, Renato Feder, e mantidas pelo seu sucessor, Roni Miranda, a EJA perdeu mais de 90 mil matrículas em apenas cinco anos.
Além de acabar com o ensino em horários flexíveis e com a possibilidade de cursar disciplinas isoladas, o que facilitava o acesso e a permanência dos(as) estudantes da EJA, a gestão Ratinho Jr. também tem fechado turmas em todo estado, transferindo a oferta para outras instituições distantes da demanda.
Lucinéia conta que tem passado por esse tipo de ameaça todo final de semestre. Segundo ela, a Secretária da Educação envia comunicados determinando o encerramento das turmas e a transferência dos(as) estudantes para escolas em outros bairros.
A estudante procurou a APP-Sindicato e foi orientada a denunciar a situação no Ministério Público. Após a mobilização, a Seed teria recuado e prometido manter a modalidade até o final deste ano. A moradora frequenta a EJA no Colégio Estadual João Paulo II, no bairro Xaxim, em Curitiba. Ela diz que o estabelecimento fica próximo de sua residência, o que facilita o acesso dela e de outros(as) estudantes que residem naquela região da capital.
“A cada seis meses eles vão na sala avisar que o governo mandou fechar as turmas da EJA. Não é isso que a gente quer. A gente quer estudar com segurança. Não é todo mundo que tem dinheiro para pagar passagem todo dia para estudar longe de casa. Na EJA, a maioria são jovens, vêm direto do serviço. Outras pessoas deixam os filhos em casa, estão se esforçando. Tem idosos também”, explica.
Resistência
Para a secretária executiva Educacional da APP-Sindicato, Margleyse Santos, a mobilização dos(as) estudantes e de toda a comunidade escolar é essencial para resistir aos ataques que o governo tem feito contra a EJA, inclusive ajudando a divulgar que as matrículas estão abertas.
“Infelizmente essa gestão do Ratinho Jr. não tem nenhuma preocupação em atender as necessidades da classe trabalhadora. Eles só buscam números para fazer propaganda e formas de transferir dinheiro público da educação para empresas que vendem plataformas digitais. Não valorizam os professores e funcionários de escola e muito menos as pessoas que precisam de uma escola perto de casa para poder terminar os estudos”, afirma.
Apesar do cenário crítico, Margleyse destaca as vitórias obtidas pela mobilização das comunidades que têm enfrentado esses ataques do governo e a atuação da APP em denunciar e mobilizar autoridades, instituições e especialistas para fazer a resistência.
“O que a gestão Ratinho Jr. tem feito com a EJA é um crime e os números estão aí para provar. O Paraná é o estado com maior número de pessoas analfabetas da região sul do Brasil, mas o governo estadual nada tem feito para mudar essa realidade. Essa gestão vai passar, porém nós, educadores e comunidade, vamos reconstruir e trazer de volta a valorização da EJA no nosso estado, como deve ser”, diz.
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