Roni e Ratinho Jr. geram revolta com destituição da direção de colégio estadual de Maringá eleita pela comunidade

Alunos(as) do Colégio Estadual Alfredo Moisés Maluf, em Maringá, paralisaram as aulas na última sexta-feira e lotaram a quadra do estabelecimento empunhando cartazes e faixas em protesto a mais nova decisão ditatorial da gestão do secretário da Educação, Roni Miranda, e do governador Ratinho Jr. (PSD). Com palavras de ordem, “fica Geraldo!”, os(as) estudantes se manifestaram contra a destituição da equipe de direção do colégio e contra a obrigatoriedade do uso de plataformas digitais em sala de aula.

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O caso é mais um da enorme lista de abusos protagonizados pela política de assédio e adoecimento do atual governo do Paraná, que usa índices de plataformas digitais e cobranças de metas abusivas para afastar diretores(as) e nomear interventores(as), além de pressionar e ameaçar pedagogos(as), professores(as) e funcionários(as). 

O modelo de gestão tem criando um ambiente de trabalho hostil, gerando aumento do número de afastamento para tratamento de saúde mental e, recentemente, até morte de professoras dentro das escolas foram registradas em unidades da rede pública.

Ditadura do Ratinho Jr.

A decisão autoritária do governador e do secretário da Educação causaram indignação e revolta também nas redes sociais. Comentários destacaram a competência do professor Geraldo Trabuco e o seu trabalho realizado à frente da instituição de ensino

“Sou aluno do colégio há 7 anos, e ver isso acontecer é simplesmente inadmissível! Essa gestão vem fazendo um trabalho incrível, como nunca antes visto na nossa comunidade escolar desde 2016. Não à toa foram reeleitos mais de uma vez pela própria comunidade. Vamos juntos, em busca da vitória e da continuidade desse trabalho!”.

“Sou ex-aluno, e sei o trabalho impecável que essa gestão tem com a comunidade escolar, ver esse retrocesso acontecer é inaceitável.”

“Tenho orgulho em ser pedagogo da Rede por influência dele e saber que desde 2015 ele humanizou e aproximou a direção dos alunos, isso que está acontecendo é um desrespeito com a educação pública.”

Outros(as) também destacaram o caráter autoritário da decisão de Roni e Ratinho Jr., que representa ainda uma afronta ao princípio da gestão democrática e aos votos de mães, pais, responsáveis e estudantes que elegeram a equipe destituída e confiam no trabalho realizado por eles(as).

“Absurdamente absurdo. Será um governo estadual tentando ultrapassar direitos democráticos? Será a implantação de um processo ditatorial?”

“A direção do Maluf tem um trabalho incrível com a comunidade escolar. Um absurdo essa ditadura do Ratinho.”

“Esse governador está acabando com a educação.”

Comentários nas redes sociais elogiam gestão dos diretores(a) afastados e repudiam atitude do governo – Foto: reprodução

Em nota, o Núcleo Sindical da APP-Sindicato em Maringá manifestou indignação e repúdio ao afastamento sumário e sem justificativa plausível dos(as) diretores(as) Geraldo Trabuco, Luciana Calvi e Josenei Jacinto, da equipe gestora do Colégio Estadual Alfredo Moisés Maluf.

“O afastamento imposto pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), com o aval do Núcleo Regional de Educação de Maringá (NRE), representa uma ação autoritária que viola os princípios da gestão democrática e da autonomia das instituições escolares.”, destaca o comunicado. Confira a íntegra no final da matéria.

Secretário opressor

O afastamento arbitrário de diretores(as) eleitos(as) pela comunidade foi introduzido na rede pública do Paraná pelo empresário Renato Feder, no primeiro mandato de Ratinho Júnior. A APP-Sindicato tem feito a resistência e combate a essa política antidemocrática, tendo conseguido reverter alguns casos.

Com a saída de Feder, Roni Miranda, que é professor da rede estadual, assumiu a Secretaria da Educação dando continuidade a todas as medidas do empresário, que punem de forma desumana e cruel os(as) colegas da sua própria categoria. 

Enquanto os(as) educadores(as) enfrentam diariamente as mais desafiadoras realidades das escolas públicas, Roni toma suas decisões em um gabinete bem localizado na capital, com ar-condicionado, regalias do cargo e um salário alto.

Pressão e adoecimento

Uma pesquisa contratada pela APP-Sindicato e realizada pelo Instituto IPO com professores(as) da rede estadual, comprovou o efeito nocivo da obrigatoriedade uso de aplicativos digitais imposta pela gestão Roni e Ratinho aos(às) docentes, mesmo nas escolas que não têm computadores suficientes para atender a demanda de estudantes.

Quase a totalidade dos(as) educadores(as), 91,3%, se declaram sobrecarregados(as) com a avalanche de novas plataformas, aplicativos e meios tecnológicos somados à cobrança pelo cumprimento de metas. Já 74,3% reconhecem impactos negativos do modelo na sua saúde física e/ou mental, enquanto uma parcela maior (78,3%) afirma ter colegas que adoeceram em decorrência das dificuldades impostas pelas novas tecnologias. Além disso, para 83% dos(as) professores(as), as plataformas digitais não melhoraram o aprendizado dos estudantes. 

Em respostas abertas, os(as) entrevistados(as) puderam expressar o motivo de relacionar o adoecimento ao uso de plataformas

Os dados da pesquisa são complementados por números oficiais do próprio governo. Segundo dados da Secretaria de Estado da Administração (Seap), em 2024, mais de 10 mil educadores(as) que atuam na rede estadual de ensino precisaram se afastar do trabalho para tratamento de problemas ligados à saúde mental.

O levantamento da indica que 8.888 professores(as) do Quadro Próprio do Magistério tiveram que se afastar do trabalho para tratamento de saúde mental, além de 914 Agentes Educacionais II, 624 de Agentes Educacionais I, 43 professores(as) QPM do Colégio Estadual do Paraná, cinco Agentes Profissionais, três QPPE lotados(as) na Educação e um Agente Educacional I do Colégio Estadual.

Esses números se referem apenas aos afastamentos por problemas mentais, o que evidencia que o estrago na saúde dos(as) educadores(as) é ainda pior.  Estão de fora da lista os(as) professores(as) PSS, que são proibidos(as) pelo governo de acessar o Serviço de Assistência à Saúde (SAS), concedido apenas aos(às) servidores(as) concursados(as).

Professoras morrem dentro de escolas

Os indícios de que a política de assédio e cobrança de metas abusivas tem provocado o adoecimento físico e mental dos(as) educadores(as) foram reforçados com a morte de duas professoras, durante o expediente de trabalho, em menos de uma semana.

A professora PSS de Língua Portuguesa, Silvaneide Monteiro Andrade, morreu no dia 30 de maio, durante seu expediente de trabalho no Colégio Estadual Jayme Canet, em Curitiba. De acordo com as informações, a professora estava dando aula quando foi chamada à sala da equipe pedagógica, onde sofreu um infarto. Ela chegou a ser socorrida pelo serviço médico, mas não resistiu e veio a falecer.

Seis dias depois, a professora Rosane Maria Bobato, na tarde do dia 5 de junho dentro do Colégio Estadual Santa Gemma Galgani, em Curitiba, estabelecimento de ensino que neste ano teve a sua gestão administrativa transferida para a iniciativa privada. De acordo com as informações, a professora se sentiu mal em sala de aula, foi para a coordenação, onde foi acolhida, mas infelizmente veio a óbito no local.

Em comum, as duas professoras lecionam a disciplina que tem maior número de aplicativos exigidos pela Seed para utilização em sala de aula com os(as) estudantes. Mesmo não existindo legislação que obrigue os(as) docentes a adotarem as ferramentas de forma obrigatória, a gestão Roni e Ratinho Jr. estabelecem uma estrutura de cobranças e metas que geram assédio, exaustão e o acúmulo de tarefas para dar conta das exigências. 

Diretores(as) são cobrados pelos índices de uso das plataformas e podem ser destituídos(as) caso a escola não atinja as metas estabelecidas. Outros(as) profissionais da rede são destacados(as) para vigiar e cobrar os(as) docentes pelas metas, interferindo na autonomia pedagógica dos(as) profissionais que atuam na sala de aula.

O falecimento das duas professoras da rede estadual de ensino do Paraná causou profunda comoção e repercussão em todo o país, gerando um sentimento de solidariedade e indignação entre os(as) profissionais da educação e a sociedade em geral. 

Ato em frente à Seed denunciou condições de trabalho dos(as) educadores(as) – Foto: Altvista / APP-Sindicato

Mas nem a morte de duas professoras foi suficiente para a gestão Roni e Ratinho Jr. cederam a essa política de assédio e adoecimento dos(as) educadores. Na última quinta-feira (12) protestos realizados pela APP-Sindicato em frente à Seed, em Curitiba, e aos Núcleos Regionais de Educação pelo estado, resultaram na realização de uma reunião com diretores(as) da pasta. 

No encontro, a direção estadual da APP-Sindicato exigiu o fim das políticas de pressão e assédio nas escolas que têm levado a categoria ao adoecimento. Ficou acertada a criação de três grupos de trabalho para discutir e avançar nos seguintes pontos: fim da obrigatoriedade de interação nas plataformas digitais, alteração na lei que obriga diretores(as) de escola a cumprir metas impostas pelo governo e fim do assédio dos Núcleos Regionais de educação aos(às) diretores(as) de escola. 

 

Nota de repúdio sobre o afastamento dos(as) diretores(as) do Colégio Maluf

A APP-Sindicato vem a público manifestar indignação e repúdio ao afastamento sumário e sem justificativa plausível dos(as) diretores(as) Geraldo Trabuco, Luciana Calvi e Josenei Jacinto, da equipe gestora do Colégio Estadual Alfredo Moisés Maluf, em Maringá.

Esses(as) educadores(as), reconhecidos(as) por sua longa trajetória de compromisso com uma educação pública democrática, plural e de qualidade, vêm exercendo suas funções com responsabilidade, competência técnica e respeito à comunidade escolar.

O afastamento imposto pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), com o aval do Núcleo Regional de Educação de Maringá (NRE), representa uma ação autoritária que viola os princípios da gestão democrática e da autonomia das instituições escolares.

Os(as) diretores(as) foram escolhidos(as) pela comunidade escolar em processo democrático de consulta pública, conforme determina a Lei Estadual nº 18.590/2015. Trata-se, portanto, de uma gestão legitimada pelo voto direto de professores(as), funcionários(as), estudantes e familiares – cuja escolha deve ser respeitada e preservada.

A medida adotada pela SEED, além de desconsiderar o respaldo popular, afronta dispositivos legais nacionais e estaduais que asseguram a participação da comunidade na condução da escola pública.

APP-Sindicato – Núcleo Sindical Maringá

Maringá, 13 de junho de 2025

 

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